Na oficina do "Par" trabalha um colaborador europeu - de Portugal. Antes do contato estreito com um imigrante, eu não fazia ideia das emoções (positivas e negativas) envoltas nesta trama, pois nesta região quase não há expatriados contemporâneos.
O moço de 32 anos é um sujeito miudinho, espontâneo e ingênuo (lento em aprendizagem). Em Portugal, cursou o equivalente ao ensino médio e trabalhou vários anos numa fábrica de tijolos, operando máquinas. Depois passou outros tantos anos pertinho de casa, numa padaria.
A casa da família, lá no norte do país, é daquelas que vão passando de geração a geração. Toda feita de pedras e madeira; foi comprada dos outros herdeiros (tios) e reformada.
O rapaz saiu da terrinha a quase oito anos, trazido por um tio para melhores chances, instalando-se em Fortaleza, onde passou privações e foi assaltado três vezes. Desceu para Minas Gerais, conheceu a esposa e literalmente caiu aqui.
A esposa (em união estável) é enfermeira, daquelas que cumprem 12 horas num hospital e correm para mais 12 no outro. Internado, conheceu-a, 12 anos mais velha. Vivem com os pais dela e a bisa de quase 100 anos, que faz bolachinhas especialmente para ele. Uma poesia pura!
Mas como nem tudo é poesia, a mãe faleceu neste meio-termo, o pai se ajuntou novamente e tudo corria bem. No ano passado, porém, ele chegou desconsolado para o trabalho, dizendo que o pai havia perdido a perna num trágico acidente de trabalho com o trator, em Portugal.
Sem poder viajar devido aos custos, sofreu à distancia, e como desgraça pouca é bobagem, agora, após 6 meses, o seguro do pai ( tipo nosso INSS) foi cortado, até que saia o resultado da ação trabalhista em decorrência do acidente.
O benefício de cerca de 480 euros (um salário mínimo), diminuiu para 120 euros aproximadamente, sendo que o senhor de 60 anos gasta 400 euros apenas em despesas essenciais: comida num asilo (150 euros mensais), prestação do mini-carro para locomoção, água e luz, farmácia, empréstimo.
Agora, o rapaz terá que mandar todo o seu provento mensal para o pai, visto que o irmão tem duas meninas pequenas, paga aluguel e está depressivo ante tantos perrengues. A esposa (e família maravilhosa que praticamente o adotou) se prontifica a mantê-lo pelo tempo de penúria, enquanto não sai o resultado da ação trabalhista.
O pai já gastou todas as economias com advogado e ainda faltam 5 anos para completar tempo suficiente para aposentadoria. Sua prótese não vingou, deixando bolhas na perna cortada à altura da coxa. Uma nova será confeccionada. A companheira? Já deu no pé assim que ocorreu o desastre, e o induziu a assinar um empréstimo bancário.
É angustiante ouvir os suspiros do português, enquanto trabalha absorto em pensamentos longínquos...