31.7.14

Expatriação

Na oficina do "Par" trabalha um colaborador europeu - de Portugal. Antes do contato estreito com um imigrante, eu não fazia ideia das emoções (positivas e negativas) envoltas nesta trama, pois nesta região quase não há expatriados contemporâneos.
O moço de 32 anos é um sujeito miudinho, espontâneo e ingênuo (lento em aprendizagem). Em Portugal, cursou o equivalente ao ensino médio e trabalhou vários anos numa fábrica de tijolos, operando máquinas. Depois passou outros tantos anos pertinho de casa, numa padaria.
A casa da família, lá no norte do país, é daquelas que vão passando de geração a geração. Toda feita de pedras e madeira; foi comprada dos outros herdeiros (tios) e reformada.
O rapaz saiu da terrinha a quase oito anos, trazido por um tio para melhores chances, instalando-se em Fortaleza, onde passou privações e foi assaltado três vezes. Desceu para Minas Gerais, conheceu a esposa e literalmente caiu aqui.  
A esposa (em união estável) é enfermeira, daquelas que cumprem 12 horas num hospital e correm para mais 12 no outro. Internado, conheceu-a, 12 anos mais velha. Vivem com os pais dela e a bisa de quase 100 anos, que faz bolachinhas especialmente para ele. Uma poesia pura!
Mas como nem tudo é poesia, a mãe faleceu neste meio-termo, o pai se ajuntou novamente e tudo corria bem. No ano passado, porém, ele chegou desconsolado para o trabalho, dizendo que o pai havia perdido a perna num trágico acidente de trabalho com o trator, em Portugal.
Sem poder viajar devido aos custos, sofreu à distancia, e como desgraça pouca é bobagem, agora, após 6 meses, o seguro do pai ( tipo nosso INSS) foi cortado, até que saia o resultado da ação trabalhista em decorrência do acidente. 
O benefício de cerca de 480 euros (um salário mínimo), diminuiu para 120 euros aproximadamente, sendo que o senhor de 60 anos gasta 400 euros apenas em despesas essenciais: comida num asilo (150 euros mensais), prestação do mini-carro para locomoção, água e luz, farmácia, empréstimo.
Agora, o rapaz terá que mandar todo o seu provento mensal para o pai, visto que o irmão tem duas meninas pequenas,  paga aluguel e está depressivo ante tantos perrengues. A esposa (e família maravilhosa que praticamente o adotou) se prontifica a mantê-lo pelo tempo de penúria, enquanto não sai o resultado da ação trabalhista.
O pai já gastou todas as economias com advogado e ainda faltam 5 anos para completar tempo suficiente para  aposentadoria. Sua prótese não vingou, deixando bolhas na perna cortada à altura da coxa. Uma nova será confeccionada. A companheira? Já deu no pé assim que ocorreu o desastre, e o induziu a assinar um empréstimo bancário. 
É angustiante ouvir os suspiros do português, enquanto trabalha absorto em pensamentos longínquos...

"Quentá sor"

Esse hábito arraigado na nossa cultura cabocla, tão simples e caipira quanto um "cigarrin di paia", vem a décadas sendo minado pelas notícias de buraco em camada de ozônio, câncer de pele, necessitando untação desde o couro cabeludo com protetor solar. 
Fato é que todo exagero é ridículo... então agora as pessoas, em pleno país tropical, estão apresentando deficiência em vitamina D. No mês passado foi uma amiga, depois a mãe de outra, agora uma colega de trabalho tendo que tomar 50 gotas da vitamina, uma vez por semana.
O médico da colega aconselhou-a a tomar 15 minutos de sol com o mínimo de roupa. Detalhe: deve ser em torno do meio-dia, quando o astro irradia sua energia incidindo diretamente sobre a pessoa, e não "di banda", como de manhãzinha ou à tardinha. E enfatizou que só faz bem.
Eu já havia lido alguns artigos sobre estes exageros, e também ficava matutando. Sendo interiorana e roceira, sempre vi as pessoas trabalharem ao ar livre, de sol a sol e nem por isso a incidência de câncer de pele é grande. Claro que um chapéu adequado e mangas longas são necessários, contudo protetor solar inexiste lá na serra, dentre os primos.
E com este inverno geladinho, ficar desavisada da vida, lagarteando ao sol que nos acaricia até aos ossos, tem nada melhor, principalmente nestes dias de céu vidrado e sem uma felpinha sequer de nuvens. Quer vir comigo "quentá sor" e prosear filosofias baratas enquanto a estação ainda permita? 

27.7.14

Ciro e Van

O casamento da prima, em Americana, foi perfeito. Viajamos direto para a igreja, depois à recepção e voltamos na madrugada. "Fiotão" não bebe e dirige bem. Enquanto o Brasil perdia, a gente seguia.
Na semana, corri de manhã e à noite; tomei cuidado com a alimentação, pois sabia que "enfrentaria" carpaccio, bobó de camarão, salmão... e só bebi água, muita água.
 Guloseimas maravilhosas.
 A linda noiva - ela é muiiiito festeira, sempre foi. 
 O vestido belíssimo. Estavam a dois anos preparando tudo.
 Ela e as tias. 
A da direita, levou uma sacola cheia de havaianas, alguém na mesa ao lado derramou uma garrafa, que escorreu no chão da mesa dela e derreteu a sacola - espalharam-se havaianas com o pontapé de outro alguém!
 O noivo e seus avós. Ele tem uma aura especial, uma ternura penetrante.
 Eu e a mãe da noiva - tia Lena.
 "Fiotão" e Gi.
 Golden House - Americana.
A banda era ótima e dançamos bastante.
Eu e o Par.
Roguei aos céus para que o casal forme uma família serena, centrada e íntegra, que venham filhos (pois ambos querem) e possam desfrutar pacificamente dos pais, por todos os seus dias.
Não tirei fotos na igreja, contudo foi uma cerimônia comovente. Por mim, apenas aquela seria suficientemente completa. Não me importo quando os noivos saem acenando, vão à lua de mel e a gente reúne um grupinho para comer pizza.
Na infância rural, a gente ia à tulha da maior fazenda aguardar a chegada dos noivos, que se casavam na cidade com pouquíssimos acompanhantes. Tábuas eram colocadas nas laterias e um sanfoneiro fazia o baile. 
Passava-se um garrafão de pinga "cuma" canequinha de "ferragate", onde todos bebericavam, inclusive crianças. Cigarros de palha misturavam seu odor ao suor dos dançantes noite adentro. Beber água, só no "corguinho" ao lado. Voltávamos a pé em meio ao cafezal, felizes da vida!
Sou muito pragmática e comedida, então imagino o trabalhão, estresse e o dispêndio para se concluir em minúcias uma festa assim, com cada detalhe. Ao final da comilança e bebedeira, vê-se sobre as mesas um desperdício quase irresponsável. 

9.7.14

Arrastada pelos cabelos

Apenas por ter sido sincera em dizer abertamente que estou torcendo pela Argentina, quase me escalpelaram, os convíveres!
Ninguém compreende a minha estranha e descabida lógica de querer a taça aqui pertinho, na nossa América do Sul...
E rivalidades à parte, até agora, Los Hermanos estão resistindo bravamente aos europeus. Esta história dará pano prá manga.
Diziam os antigos, que "se não tem tu, vai tu mesmo", e bola prá frente que há vida além do futebol, apesar dos pesares.  
Creio que fomos suficientemente competentes na empreitada de sediar um evento tão amplo. A mudança na rotina, as folgas extras, o patriotismo, a festança, o espírito desportivo, a recepção de tantas culturas distintas. Tudo é entretenimento.
Voltemos aos poucos à realidade: à busca por prioridades, à luta por um país cada vez melhor, pela seriedade nas eleições... aliás, já fui devidamente convocada - primeiro mesário.

1.7.14

Pititinha

Meus "pititicos" brincando de carrinho de sorvete.
Sim, eu tirei umas férias "pititicas" - recesso escolar. Ontem, passamos o dia todo na Escola, no "trem" dum curso "disgramado"... é estranho ver aquele casarão sem criança. Hoje, na manhãzinha, me encontrei com a mãe das gêmeas na feira.
Falando nas minhas gêmeas, elas são falsas. Vieram de inseminação, mas apesar de uma ser morena, grandona e cheinha; a outra ser loira, seca e miúda, a mãe as veste parecidas, mudando a cor (e tamanho); às vezes fica uma "marmotice".
Quando ensino as dificuldades ortográficas relacionadas ao SS e RR, sempre uso gêmeos da escola como referência aos alunos; tendo gêmeas na própria sala, melhor ainda - eles adquirem uma aprendizagem "bitelona".
A maior é minha melhor aluna, até tento desequilibrá-la para que relaxe um pouco. A outra é mais séria, abandona algum trabalho pela metade, vive de "butuca". Sempre a maior é que procura pela outra. Esta, por vezes lhe dá a "cacunda", nem lhe dá "trela".
Todos os alunos guardam peculiaridades ímpares... alfabetizar crianças de 6 anos é o paraíso, principalmente quando não há casos de "gastura" (criança marrenta, rilienta, que azucrina) no grupo. Neste ano eu não precisava nem dum "tiquim" de férias, pois não "pelejei" muito. 
Nesse "cadim" de descanso, não quero nada "reguenguela", só uns passeios simplezinhos: chá de fralda da colega, casamento da prima, dormir na serra, vagar pelos arredores. Não estou varada de canseira.