Consumimos desmedidamente num Planeta que passou a comportar cerca de 7 bilhões e meio de pessoas.
E não falo apenas da toxidade dos esmaltes, maquiagem, tinta de cabelo. Tenho conhecidas que não ficam 1 dia sem esmalte; pintam cabelo religiosamente a quatro semanas; usam maquiagem até em sol escaldante. Se pensarmos nos riscos da toxidade, poderemos ser mais naturais, limpas.
Pensamos tanto na limpeza da casa, da roupa, nos banhos assim e tal, em alimentos limpos de toxinas, saudáveis. Nos preocupamos com o funcionamento correto dos intestinos para estarmos limpos - de corpo e alma.
E toda essa sujeira a que nos impomos em nome de uma ditadura da moda, da beleza, do enquadramento num perfil estético? Agimos sem ruminar, gastamos horas e dinheiro nessa verdade incontestável que nos condiciona.
E o esbanjamento que era restrito a roupas, calçados e acessórios, agora estendeu-se a utensílios domésticos, móveis, carros. Ninguém mais se senta numa máquina de costura para revitalizar peças de roupa "cansadas". Sapateiro? Deite ao lixo e compre mais... acessórios então, são descartáveis.
De madrugada, quando saio para pedalar com o meu Par, vejo meninas voltando a pé de festas, com sandálias altíssimas à mão. Descalças e pisando doído no asfalto crespo e sujo(?).
Já vemos nas caçambas aqui do interior, móveis e eletrodomésticos seminovos. É mais prático descartar do que escolher alguém para doar, levar até lá... e a pessoa pode até se ofender, achar que tá sendo chamada de pobre!
E onde vamos desovar tanto veículo que se acumula nas garagens, inúmeras revendas de seminovos, abandonados em via públicas, enquanto outros tantos exemplares são fabricados a cada ano?
Dizem os cientistas que até meados de 2070, pelo menos, a população continuará crescendo, chegando a quase dez bilhões. Caberemos nesta judiada nave, se o consumo diminuir? Porém, qual a chance de diminuir? Esse jogo de forças entre consumo/ economia e ambientalismo vai longe...
Desperdiçamos metade de um pé de alface, por exemplo. Os talos podem ir para um suco verde, ser refogados no arroz. A casca da banana pode compor um bolo integral, suco verde novamente, farofa.
Eu estava na papelaria fotocopiando aqueles documentos para aposentadoria, que citei, e a balconista mãe de minha ex aluna entregou R$ 3,00 para a colega comprar um suco "natural" de garrafinha. Perguntei se ela sabe o valor d'uma dúzia de laranjas. Não! Com o mesmo valor compraria 24 unidades, levando de lanche da tarde por 24 dias úteis. Uma laranja picadinha e uma banana fornecem lanche rico e barato.
E a água? Aqui no interior, a água da torneira é corrente e tratada (nem fica em represa), vindo diretamente do rio que escorre pelas encostas da Serra da Mantiqueira. É só usar uma torneira com filtro, contudo conhecidos meus compram água.
Aquela água engarrafada. Água parada que está a meses viajando de entreposto a entreposto, torrando ao sol sobre um caminhão na estrada, acumulando resíduos tóxicos do plástico. É melhor que nossa água corrente, pois é "mineral", é chique. Existe água vegetal ou animal? Água é em essência um mineral.
Quando se viaja à Europa, vem-se elogiando a água "superior" direto da torneira, servida por lá. Vai entender...
Chique é ser simples, saudável, valorizar produtos locais e respeitar a Nave Mãe. Chique é se impor e ter atitude; é economizar o rico dinheirinho para gastá-lo inteligentemente. Uma boa forma é aproveitar a água da chuva, investindo o dinheiro de forma eficiente e duradoura.
Eu faço uso do aprendizado de infância para resgatar alimentos que caíram de moda e são orgânicos. Saio de moto com o Par pelas estradinhas ou trilhas das imediações e faço recolecção de beldroega, trapoeraba, picão, azedinha, erva de fazendeiro, serralha, caruru, limão cavalo, folhas de goiabeira. Higienizo e guardo em geladeira (parte eu congelo), garantindo suco verde variado e sem agrotóxico por dua semanas.
Também frequento a lojinha da igreja onde minha mãe é voluntária (brechó), tanto doando quanto comprando produtos usados; sei costurar e tenho imaginação. Um forro de carrinho de bebê vira belo tapete, assim como pernas de calças; chapéu vira cachepô para flores; cachecol vira novelo de lã. E meus alunos carentes fazem a festa!
Sempre aceitei, e agradeci muito por doações de amigos e parentes, tando de roupas quanto de utensílios domésticos. Falo de boca cheia. Não sou tão pobre que não possa comprá-los, contudo não sou tão podre de espírito que não possa aproveitá-los.